A China avança no Pacífico e o Brasil desperta tarde
Enquanto o Brasil segue imerso em suas crises internas e inércia política, a China está se consolidando no Peru com um investimento bilionário no porto de Chancay. Um projeto faraônico que pode se tornar a grande porta de exportação de commodities brasileiras para o Pacífico, encurtando significativamente o tempo de transporte para a Ásia. Mas, para aproveitar essa janela, o Brasil precisaria agir rápido e investir na sua infraestrutura interna — algo que parece sempre distante da nossa realidade.
O novo “megaporto” e a oportunidade desperdiçada pelo Brasil
O porto de Chancay, localizado a 60 km de Lima, é a primeira grande infraestrutura portuária controlada pela China na América Latina. Com um investimento de mais de 3,5 bilhões de dólares, a obra deve ser inaugurada no próximo ano e promete ser uma revolução para o comércio regional. O Brasil, que exporta toneladas de soja e lítio, poderia aproveitar essa rota para encurtar seu caminho até a Ásia, mas continua com sua logística sucateada e estradas deploráveis.
A reação tardia de Washington
O avanço chinês na América Latina não é apenas econômico; é também geopolítico. A construção de Chancay coloca a China no coração da América do Sul, estreitando laços comerciais e aumentando sua influência na região. Enquanto isso, os EUA, outrora os donos do quintal latino-americano, só agora começam a perceber que Pequim está tomando seu espaço. O receio é evidente: os americanos temem perder o controle sobre o fornecimento de matérias-primas estratégicas, como o lítio e o cobre.
A soja brasileira e o atalho perdido
Um dos grandes beneficiários desse projeto deveria ser o Brasil. Hoje, a soja brasileira precisa contornar o Atlântico ou passar pelo congestionado Canal do Panamá para chegar à Ásia. Com Chancay, esse trajeto seria encurtado em um terço. Mas, novamente, o Brasil não está preparado para aproveitar. O projeto de uma estrada ligando o porto ao Acre, facilitando o acesso direto ao Pacífico, esbarra em entraves políticos e financeiros que parecem não ter fim.
A Nova Rota da Seda e o controle chinês na América Latina
O projeto de Chancay faz parte da gigantesca Iniciativa Cinturão e Rota (BRI), o plano de infraestrutura global da China. Pequim quer não apenas abrir novos mercados, mas controlar os fluxos logísticos e comerciais estratégicos. Com a obra 70% concluída, Chancay já é um marco da influência chinesa na América Latina, uma região que, ironicamente, sempre foi tratada pelos EUA como quintal e agora se vê cada vez mais nas mãos dos chineses.
Brasil: sempre atrasado e despreparado
Empresários brasileiros já visitaram o porto e reconheceram seu potencial, mas o governo brasileiro ainda não moveu uma palha para acelerar a conexão com o Pacífico. Os analistas alertam: sem investimento em infraestrutura e sem uma política clara para aproveitar a oportunidade, o Brasil continuará sendo o eterno coadjuvante no cenário global, enquanto a China dita as regras do jogo.
O dilema peruano: o porto é da China ou do Peru?
Para completar o cenário, o governo peruano tenta agora rever o acordo que concedeu à Cosco Shipping o direito exclusivo de operar o porto. Um erro administrativo, dizem eles. Mas a China não abre mão de seu controle, afirmando que os termos foram acordados no início do investimento. A disputa ainda pode parar na arbitragem internacional, mas o fato é que o Peru, que deveria ser o grande beneficiário dessa obra, pode estar perdendo o controle de seu próprio território.